domingo, 23 de julho de 2017

Está tudo bem não estar tudo bem

Tem dias que você sente que as coisas ao seu redor não estão tão legais como nos outros dias, que situações que há um dia atrás eram facilmente contornadas ganham da noite pro dia um peso imenso e exigem muito esforço para lidar com elas. As pessoas estão “chatas”, o ambiente está “pesado”, o dia está “feio”. Até que alguém pergunta: “Tudo bem?” E você percebe que realmente não está, que não foram as coisas que mudaram da noite pro dia, foi você que não acordou tão resiliente assim.
Pessoas que são rígidas consigo mantém um padrão de exigência com o outro mas principalmente com elas mesmas, e por isso sentem dificuldade em tolerar quando não estão tão bem como acham que deveriam estar. Não conseguem acolher as próprias limitações emocionais e possuem a tendência em mascarar o que sentem, ou ainda, inconscientemente se desconectam das próprias sensações e adotam comportamentos padronizados como forma de garantir que vai ficar tudo bem: forçam um sorriso, insistem em atividades custosas, negligenciam os “sinais” de que não está tudo bem assim.
Todas as emoções e sentimentos possuem uma origem, um motivo para estarem ali. Porém as vezes não conseguimos identificar o que existe por trás daquela tristeza, da irritabilidade, da angústia, apenas sentimos que não estamos como nos demais dias. E neste momento, ao nos darmos conta de que não é o dia que ficou “ruim” de repente, mas que é o nosso olhar sobre ele que o fez ficar “ruim”, que precisamos nos questionar: “O que eu estou precisando neste momento?”
Quando fizemos pausa nos julgamentos com relação ao que sentimos e sobre a nossa falta de resiliência, passamos a escutar verdadeiramente as mensagens que nosso corpo está mandando. Ás vezes só precisamos de um descanso, de uma pausa no modo automático de viver, ás vezes precisamos de uma companhia que acolha os nossos sentimentos, ou ainda, de um tempo sozinhos. E se nos ouvirmos com sensibilidade, treinando a censura para que ela dessa vez fique longe dos nossos desejos, conseguimos parar de lutar contra aquilo que precisamos no momento e passamos a nos acolher integralmente.
Este acolhimento que buscamos geralmente no outro, precisa antes de tudo ser desenvolvido por nós mesmos. E a melhor forma de desenvolvê-lo é minimizando a auto censura, os julgamentos e a exigência de que temos sempre que “dar conta” das próprias emoções. Cada vez que negamos a forma como nos sentimos aumentamos o sentimento de insatisfação porque vamos agir não de acordo com o que o nosso sentimento está nos pedindo mas sim de acordo com o que julgamos que ele deveria pedir.
A recorrência de períodos de tristeza ou irritabilidade precisam ganhar atenção, e a melhor forma de se acolher nestes momentos é buscando auxílio psicológico. Se você hoje não está se sentindo tão bem como gostaria de estar, perceba o que seu corpo está pedindo e de que forma você pode atender a este pedido de forma saudável, para se reequilibrar e fortalecer a sua resiliência para os próximos momentos.
Está tudo bem não estar tudo bem, acolha os seus sentimentos ao invés de negá-los ou de querer transformá-los racionalmente. Seja amigo (a) de quem você é e evite sobretudo censurar o que você está sentindo.

Qual o significado da sua vida?

Há quem siga correndo pela vida numa busca desenfreada para conquistar a tão almejada felicidade, há quem viva no modo “automático”, outros, “levando” ou “empurrando” a própria existência com olhos desvitalizados e com o corpo cansado, há também quem se entusiasme a cada dia e busque nele sentidos para a caminhada. Independentemente do modo como cada um vive, todos possuem o mesmo desejo: sentirem-se felizes.
Cada indivíduo possui registros de satisfações que foram construídos a partir das suas primeiras experiências. Cada desejo satisfeito, cada necessidade atendida contribui para que ele desenvolva inconscientemente fantasias a respeito da própria felicidade. Geralmente essas promessas de felicidade são depositadas em algo ou em alguém. É assim que fazemos projetos de vida, nos lançamos à desafios, construímos felicidades para cada etapa de vida. Se quando somos crianças nossa maior felicidade é brincar e ter o colo dos pais, quando nos tornamos adolescentes vislumbramos na liberdade a tão esperada felicidade, as escolhas profissionais, os relacionamentos também constituem tais promessas de felicidade que surgem a partir de cada etapa do desenvolvimento.
Contudo, quando não há equilíbrio entre prazer e realidade, ou seja, quando todo o investimento gira em torno de uma única conquista, ocorre um fortalecimento da fantasia, e é onde se passa a acreditar que somente a obtenção daquilo que se quer é que trará a verdadeira satisfação, ou ainda, a tão almejada felicidade.
Baseado neste contexto, algumas pessoas tem dificuldade de se reestruturar após uma frustração. Como colocaram nas mãos de algo ou de alguém o sentido da própria vida, quando não conquistam o que desejam passam a acreditar que não existe mais possibilidades de serem felizes, perdem as esperanças e desenvolvem de acordo com cada estrutura de personalidade, comportamentos decorrentes da culpa que sentem, ou da raiva, vitimização, agressividade, desdém…
É importante que seja analisado onde estamos colocando as nossas expectativas, e de que forma estamos caminhando ao encontro das conquistas que almejamos. Ás vezes, o indivíduo procura desenvolver um relacionamento saudável, contudo, age evidenciando o outro e se negligenciando na relação, ou seja, o sentido da própria vida dele acaba sendo incongruente e a tendência a frustração se torna maior que a da própria realização.
Por isso é fundamental observar por que estamos caminhando de determinado modo, e além disso, por que construímos tal desejo como ideal para a nossa satisfação. É necessário ter cautela com a tendência a se deixar influenciar por ideais de felicidade, pois, a crença em uma receita única para a satisfação pode contribuir para quadros de insegurança, baixa auto estima, insatisfação e despersonalização.
Outro ponto importante é sobretudo, manter a atenção na realidade para compreendermos que a vida pode ter vários sentidos, e que a frustração de uma conquista não precisa ganhar mais poder do que as outras várias possibilidades de felicidade.
Por isso, perceba qual o significado que você quer dar para a sua vida e de que forma está indo ao encontro dele. E sobretudo, avalie se você realmente se identifica com este significado, afinal, a vida é sua e somente você poderá dar o seu sentido à ela.

Essa pressa faz sentido?

Você já se perguntou sobre o porque de estar correndo tanto? Diariamente lidamos com cobranças externas que nos dizem que precisamos ser os melhores profissionais dentro da nossa área de atuação, que precisamos ser o melhor filho, pai, marido, esposa, amiga, nora… E na tentativa de atingir todas essas expectativas sociais, esquecemos de questionar se realmente queremos ser os melhores, e mais ainda, o que realmente significa  ser melhor para nós.
Todo o esforço para atingir um ideal seja ele pessoal ou profissional ignora a realidade. É que parâmetros como melhor ou pior dependem de várias circunstâncias e principalmente, partindo deste raciocínio, do olhar do outro para serem considerados como tal. E quando consideramos que existe um outro capaz de avaliar se somos bons ou não, precisamos entender que  somente poderemos fazer o que está dentro das nossas limitações, contudo, que a avaliação poderá ser baseada no que fizemos ou simplesmente na forma como o outro por diversos motivos nos considerou.
É por isso que é tão importante termos definido individualmente o que é bom e ruim para nós, porque é a partir disso que conseguiremos nos afastar da necessidade de sermos reconhecidos e aprovados pelo o outro, compreendendo que cada indivíduo possui os seus motivos pessoais para cada escolha que toma, e que apenas podemos nos apropriar daquilo que nos satisfaz ou que nos causa desprazer. Ou seja, é identificando aquilo que queremos ser que automaticamente entramos em contato com a realidade e nos afastamos das idealizações que quando não são dosadas, criam ilusões a respeito da felicidade.
Pessoas que possuem estruturas de personalidade que se formaram em lares com educações rígidas de exigências, desenvolvem a crença de que precisam constantemente satisfazer as pessoas a partir das expectativas que elas mesmas criaram a seu respeito. E na tentativa de agradá-las, buscam constantemente atingir uma excelência em todas as áreas da própria vida, ou, daquelas que mais são valorizadas e reconhecidas por aqueles que exigem tal conquista.
Esta exigência externa quando não é administrada com equilíbrio no sentido de ser motivadora, acaba sendo internalizada e se transformando em uma auto exigência. As consequências são o fortalecimento da competitividade com um fundo emocional de baixa auto estima, dificuldade de lidar com frustrações, auto punições, dificuldade de reconhecer os próprios limites e distanciamento de quem se é para atingir aquilo que acha-se que é, tendo como base o reconhecimento alheio.
Ás vezes as expectativas do outro podem ser baseadas no que ele vê como sendo melhor para nós e realmente pode fazer sentido se ele nos conhecer, contudo, é importante questionarmos se realmente queremos este modelo de vida, por mais benéfico que pareça ser, para nós. É que cada indivíduo possui as suas próprias identificações, por isso é fundamental, antes de tentar se ajustar naquilo que o outro acredita que possa ser bom para nós, analisar se realmente nos identificamos com aquela oportunidade, ou se estamos nos permitindo investir nela somente para agradá-lo ou por desconhecermos o que essencialmente queremos.
Por isso é fundamental reajustarmos o foco constantemente e identificarmos o motivo de estarmos ás vezes passando por cima dos nossos próprios limites. Assumir que não se quer ser “o melhor” é geralmente, doloroso porque significa dizer: “Eu abro mão de te agradar para me agradar” e consequentemente pode implicar em perdas de alguns benefícios secundários, contudo, é uma forma autêntica de lidar com a realidade e admitir a importância de valorizar o bem estar pessoal independente das expectativas que criaram a nosso respeito.