Com
frequência observo que no início de cada ano as pessoas fazem planos que
envolve sair da sua própria zona de conforto. O desejo de fazer diferente do
ano que passou é ás vezes tão intenso que a proposta de romper com as barreiras
que impediram a execução de determinada atividade até então são substituídas
pelas promessas de mudança. O que é extremamente saudável, afinal, toda
proposta de movimento que contribua para o próprio bem estar se torna sinônimo
de saúde e qualidade de vida.
Contudo,
ao se colocarem diante da execução do que se propuseram é comum o contato com
um grande sabotador de mudanças: o medo. Sim, a zona de conforto não é
construída por uma "preguiça" boba, ela é alimentada pelo
"monstro" do medo que entende que é melhor permanecer onde está e não
ter prejuízos desconhecidos ou maiores que aqueles que já tem, do que investir
em uma mudança e correr o risco de se deparar com um sofrimento novo, ou ainda,
com aquele sentimento que mais atormenta o indivíduo. Este sentimento é
completamente único, individual, singular. Para alguns há o medo de se sentir
humilhado, para outros existe o medo de se sentir sozinho, abandonado, há quem
tenha medo da frustração, de se arrepender, de não conseguir lidar com as
consequências que a mudança; efeito da conquista; exigirá. Cada indivíduo
mantém à sombra os seus medos com o intuito deles não aparecerem e estes medos
dizem muito sobre cada personalidade.
"Neste
ano farei academia!", "Até o fim do ano vou viajar sozinha pro
exterior!"... E então se deparam com a timidez excessiva diante da ideia
de mostrar o próprio corpo para um professor fazer uma avaliação de treino, ou
com o medo de ter uma crise de pânico ao se perceberem dentro de um avião.
Apesar de todos os prejuízos que se tem evitando lidar com estes medos, existe
também o conforto de não ter que mobilizar o que causa dor emocional, é neste
momento que a famosa zona de conforto se instala e mecanismos para não sair dela
são construídos a nível inconsciente: "Eu não preciso de academia
mesmo!", "Meu chefe nunca me dá férias!"...
Isso
não significa que o desejo por estas conquistas desaparecem, ao contrário, ele
ganha força à medida que é negado à nível inconsciente, mas o que acontece é
que mesmo sabendo que muito da sua vida mudaria se conquistasse aquilo que
quer, o medo de transpor as barreiras impostas pelo medo é maior.
Algumas
pessoas chegam a dizer que precisam se conformar que nunca conseguirão o que
querem, que não nasceram para isso, que precisam aprender a conviver com a
frustração de não ter uma parte fundamental para si. Parece para elas que não
há saída a não ser desistir. Mas, a própria desistência é uma questão de ganho,
então, é necessário fazer o oposto: começar a identificar os prejuízos em todas
as áreas da vida que se tem devido ao "monstro" que impede a execução
daquela promessa de ano novo específica.
Entender
o que aquele medo em específico diz a respeito da própria história de vida é
fundamental para conhecer as restrições nas quais se aprendeu a viver. O medo
de mostrar o corpo e se sentir humilhado por alguém que o próprio indivíduo
julga "melhor" que si certamente influencia no seu trabalho, na sua vida
familiar, social... A questão de inferioridade talvez oriente outras áreas da
vida deste indivíduo, mas devido a ele ter encontrado recursos para mascará-la:
ser autônomo, ter amigos que solicitam muito da sua ajuda, cumprir as
expectativas familiares; faz com que não tenha que enfrentar este medo diretamente,
algo que teria que fazer na academia, por exemplo. Do mesmo modo ocorre com o
segundo exemplo: enfrentar o medo de se sentir sozinha em algo que ela
considera instável e ou perigoso, pode também refletir nas demais áreas da sua
vida: se cercar de pessoas sempre por perto, solicitar engajamento do outro
constantemente para não se sentir vulnerável, querer garantias de que terá
sempre uma relação para lhe dar suporte... Enfim, todos estes casos são
hipotéticos mas permitem esboçar de que forma o medo que alimenta a zona de
conforto do indivíduo reflete nas demais áreas da sua vida.
Então,
uma forma de lidar com o que amedronta é enfrentando aos poucos, com suporte,
dentro de uma linha própria de segurança, aqueles medos que orientam a nossa
vida mas que por questões de manutenção da saúde psíquica estavam afastados da
nossa consciência. Com isso é possível se aproximar aos poucos deles, sempre
com cautela para não causar traumas novos e intensos em cima daqueles que já
existem. Isto é feito em psicoterapia através de autoconhecimento e claro, da
vontade de mudar.
Sua
zona de conforto sente "fome", identifique de que ela se alimenta,
evite que ela cresça. Não permita que seus medos atrapalhem os seus sonhos.