Se você tiver a oportunidade, pergunte aos seus
pais e avós como era a qualidade de vida deles quanto tinham a sua idade.
Escute a história que eles têm para contar, observe as prioridades deles na
época, os objetivos de vida que tinham, as preocupações e valores morais que
faziam parte do seu dia a dia. Pergunte também sobre as condições físicas,
financeiras, emocionais e culturais.
Dentro do desenvolvimento saudável do ser humano, é
necessário que em um dado momento da sua infância ele consiga se distinguir da
mãe e do pai. Quando essa desfusão não acontece o indivíduo cresce acreditando
que o jeito de viver dos pais é o único no mundo e que portanto, é o seu também,
ele constrói então uma simbiose relacional onde ele e o pai ou a mãe são a
mesma pessoa.
Então, se este processo não aconteceu naturalmente,
quando adultos podemos conhecer a realidade dos nossos familiares para nos
ajudar a separar a história deles da nossa. Há pessoas que carregam por
gerações a fio uma crença que é altamente prejudicial para os dias atuais, mas
que por nunca ter sido questionada, acaba se tornando uma regra fixa.
A valorização do trabalho e dos esforços para conquistar
coisas, espaço e poder demonstram esta situação sistêmica. Ás vezes existe uma
identificação tão intensa com a história passada dos próprios familiares que a
pessoa sem perceber, acaba reproduzindo o mesmo modo de viver de alguns membros
da família: buscam os mesmos empregos, os mesmos salários, a mesma satisfação
ou insatisfação, e até mesmo os mesmos desgastes físicos, mentais e emocionais.
Algumas pessoas relatam:
“Mas
eu aprendi com o meu pai a viver pro trabalho”
“Mas
a minha mãe disse que descansar é coisa de vadio e de quem não quer nada com a
vida”
“É
como a minha família sempre diz: 'Agora é a hora de eu produzir e render pra um
dia poder descansar na velhice'”...
Neste sentido, há famílias que cultuam o esforço e
o sofrimento no meio profissional, nem se questionam sobre o porquê, até porque
acreditam que sofrimento e trabalho estão ligados sendo impossível quebrar esta
relação. São pessoas que aprenderam a viver somente para suprir as necessidades mais primitivas da vida, e que
precisaram negligenciar as próprias emoções em prol da sua existência. Não
podiam sentir medo, sono, cansaço porque a vida exigia pressa e produtividade,
logo, tiveram que inconscientemente bloquear os seus sentimentos e viver como
se fossem máquinas. E mesmo que os anos se passem, continuam vivendo desse
jeito: se culpam por descansar, quando pegam férias se cobram, sentem vergonha
de admitir as suas vulnerabilidades, desenvolvem crises de ansiedade e adoecem
quando param de trabalhar...
E então aquela crença de que "um dia vou
descansar" não se concretiza uma vez que não se aprendeu a descansar, não
se autoriza a sentir prazer e ter momentos de lazer.
É
por isso que te questiono: Qual o sentido
que a vida profissional tem para você?, e este sentido, foi você quem criou ou
ele foi construído por alguém que não é você?
Se
apropriar dos nossos objetivos na vida é uma forma de fortalecer a nossa
identidade e obter mais satisfação no nosso dia a dia, é dessa forma que
conseguiremos separar a nossa história de vida daquela que nossos familiares
tiveram.
Então,
te sugiro refletir sobre a possibilidade de viver para além do trabalho, em
construir outros papéis na sua vida tão importantes quanto o de profissional. A
qualidade de vida é conquistada quando permitimos que cada área da nossa vida
tenha uma representação saudável e compatível com a realidade: ser pai, mãe,
profissional, amigo, filha, neto, estudante, merecem espaço na nossa história,
e podem nos abrir um novo mundo de possibilidades e, de crenças, porém agora, autorais,
personalizadas por nós mesmos e com base nas nossas próprias experiências.