segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Você aprendeu a confiar ou a controlar?

"O inferno são os outros", disse Jean Paul Sartre, filósofo francês, maior representante do existencialismo, uma abordagem filosófica complexa que compreende que o indivíduo se molda através das suas escolhas e que elas refletem a forma como "ele" quer "ver" o mundo.

Embora pareça cruel, a frase de Sartre se torna mais realista ao invés de pessimista quando pensamos nos relacionamentos humanos. Somos seres relacionais, precisamos do outro para construirmos o nosso projeto de ser, o nosso destino, a nossa história. Porém, cada pessoa possui uma história, um passado, e os projetos para o futuro são baseados no que já foi vivido. Logo, cada pessoa construirá a sua vida de uma forma singular, subjetiva.

É por isso que é tão complexo nos relacionarmos, porque ao entrarmos em contato com o outro acabamos percebendo o quanto somos diferentes, e a diferença assusta, através dela identificamos que não possuímos controle sobre as escolhas do outro. E não termos controle sobre algo ou sobre alguém gera angústia e este sentimento acaba nos fazendo entrar em contato com um outro ainda mais profundo: com o sentimento de insegurança.

Algumas pessoas questionam: O que eu faço para confiar nele (a)? Não sabendo que a desconfiança é uma consequência da insegurança. O que é fundamental analisar é se essa insegurança diz respeito à nós mesmos (não me sinto bom (a) o suficiente) ou se diz respeito ao outro (ele (a) me traz evidências de que não está comprometido com a relação).

As relações familiares contribuem para a estruturação da personalidade do indivíduo. Se os pais superprotegem o filho não o deixando fazer as suas próprias escolhas, é provável que contribuirão para a formação de uma personalidade que acredita que: "Não posso escolher porque é perigoso". Estes tipos de condutas: superproteção, medo constante, escolher pelo filho, dizer muitos 'nãos', acabam tolhendo os desejos da criança e essa aprende que não pode confiar em si mesma, que não é capaz de fazer escolhas, e que precisa depender do outro para sobreviver uma vez que ela não é suficientemente capaz de administrar a própria vida. Bem, uma vez que se sente insegura consigo, o indivíduo deposita todas as suas expectativas de felicidade no outro e passa a viver relações de dependência. Porém, como mencionado acima, devido ao outro possuir também a sua singularidade, em alguns momentos poderá "falhar" ou frustrar o (a) parceiro (a). E é aí que pode surgir a desconfiança e ou o medo de confiar.

Muitas pessoas confundem "confiar no outro" com "controlar o outro". A confiança se dá em relações em que se compartilha algo, onde os sentimentos são recíprocos, ou onde existe transparência sobre o que cada um sente e o que pode oferecer ao outro e à relação. Já o controle diz respeito ao condicionamento do outro, a querer que o outro pense e faça exatamente como ele. E aí, quando tentamos controlar o incontrolável nos sentimos frustrados, cansados e inseguros. 

Por isso é fundamental estabelecermos relacionamentos maduros onde compreendemos que o nosso parceiro possui sua individualidade assim como nós mesmos, onde esclarecemos os nossos objetivos na relação e o que queremos do outro. O diálogo é primordial para qualquer relacionamento, contudo, é necessário que ambos sejam sinceros e comprometidos com o que se propõem. Quanto à sinceridade do outro, através do convívio passamos a conhecer se suas ações são condizentes com os seus pensamentos e qual o lugar que ele dá aos próprios sentimentos. 

Logo, é importante nos conhecermos melhor, saber os nossos limites, identificar o que precisamos e o que estamos dispostos a compartilhar. Assim buscaremos relações que irão ao encontro dos nossos objetivos. 

Lembre-se: Confiar é diferente de controlar. Confiar envolve compartilhamento e não doação total da própria vida. Precisamos nos sentir seguros sozinhos para que entremos em uma relação para compartilhar e não por necessitar do outro.


Traição: Qual a minha responsabilidade?

"Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo." - Sigmund Freud.
Como será que Paulo se sentiria se soubesse que fora traído por Pedro?
Como será que Pedro se sentiria tendo consciência da sua traição em relação à Paulo?

A traição comumente é associada aos relacionamentos amorosos onde existe a troca de parceiros sem um acordo com quem se envolve (seja namoro, casamento, etc). O dicionário diz que traição significa: "Quebra de fidelidade prometida e empenhada".
Diversos são os julgamentos morais em relação ao traidor e a pessoa traída, na realidade, esta situação é antiga, e cada princípio moral, ideológico e religioso terá seus embasamentos para compreender esta situação relacional.
Contudo, na Psicologia e através de um enfoque psicanalítico e reichiano, a traição é analisada buscando resgatar a história de vida da pessoa e não o caso isoladamente. Assim, compreender a infância, principalmente como ocorreu o Édipo ou Complexo de Édipo  é importante para auxiliar o paciente enquanto indivíduo que trai ou que é traído a identificar o porquê do seu comportamento, e caso isso lhe cause sofrimento, perceber formas de elaborar os seus conflitos básicos e evitar a reprodução deste comportamento desfuncional.
A relação dos cuidadores com a criança pode ser permeada por ações que representam a perda do amor ou da confiança, podendo até mesmo ocorrer abusos diretos ou indiretos na sexualidade infantil, essas situações são consideradas como experiências de traição. Tais experiências poderão ser reproduzidas ou apresentar reflexos na vida adulta. Dependendo em que fase do desenvolvimento ocorreu a experiência de traição, geram-se traços de caráter predominantes, e quando adulto, o indivíduo poderá ter uma fixação com relação à traição, vivenciando relacionamentos em que desempenha o papel de traído ou de traidor.
Alguns indivíduos traem o parceiro porque não conseguem mais se satisfazer com ele, vão em busca de "alguém melhor", outros traem porque "precisam" afirmar para si o seu poder de sedução, outros, como forma de não se envolver sentimentalmente buscando relacionamentos relâmpagos e em grande quantidade... Inúmeros são os "motivos" da traição, porém, entende-se como fundamental sair do circulo vicioso da traição, identificar a origem deste comportamento e se livrar dos sentimentos aprisionados na infância. "Não existem vencedores, todos, de alguma forma sofrem conseqüências dolorosas".
Só para elucidar: O Édipo faz parte do desenvolvimento infantil, ele corresponde a uma etapa do desenvolvimento da criança e se dá de forma inconsciente, ou seja, a criança não tem consciência dos seus desejos. Se vivenciado de forma saudável, com pais acolhedores e atenciosos, não causará comprometimentos ou fixações, mas como envolve sexualidade e esta costumeiramente é um tabu social, geralmente essa fase se torna difícil para a criança, o que acaba contribuindo para a formação de traços de caráter rígidos.
A fase edípica está entre as mais significativas da experiência humana e o complexo de Édipo ocorre por volta dos 3 aos 5 anos de idade, fazendo parte da fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Nesta etapa, a criança consegue perceber a diferença entre os sexos, assim, dentro do complexo de édipo ela irá se identificar (querer ser igual) com o genitor do mesmo sexo que o seu e terá como objeto de desejo (querer ter para si) o genitor do sexo oposto. Mas, como não pode ter para si esse objeto de desejo devido ao medo da castração (genitor do mesmo sexo que pode punir realmente ou imaginariamente a criança), então a criança irá se aliar ao genitor do mesmo sexo que o seu, mas continuará desejando o outro. Assim, a criança irá suprimir os seus desejos e poderá desejar ser vista como "boazinha" pelos pais, passando a desempenhar papéis sociais do agrado deles. E por vezes muitas pessoas permanecem na vida adulta desempenhando esses papéis, não só para agradar os pais, mas as demais pessoas do seu convívio social também, recebendo em troca aceitação.
Quando os pais estimulam esses comportamentos dos filhos, podem contribuir para a formação de adultos que mentem para agradar, que traem para se vingar do outro que não lhe acolheu, ou porque não se sentem mais satisfeitas na relação e tem medo de se arrependerem ao optarem por somente uma relação...

É fundamental compreender que a traição causa prejuízos significativos em uma relação e precisa ser compreendida sem julgamentos. Sendo assim, o objetivo central da terapia é compreender o funcionamento do paciente e elaborar junto a ele a resolução dos conflitos que o fazem vivenciar uma vida disfuncional, neste sentido, o acolhimento, a escuta e a quebra de estereótipos se tornam fundamentais. E sobretudo, é importante perceber qual a responsabilidade do paciente diante da situação da traição.


*Contribuições de: SarahuanaNeidianaLarissa

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quem é mais importante?

É comum, quando não nos sentimos valorizados, exigirmos mais de nós mesmos. Isso ocorre com pessoas que possuem a crença de que é necessário se sacrificar em prol do outro, ou abdicar de si para ser reconhecido. Então, imaginamos que se fizermos mais, seremos reconhecidos e nos sentiremos amados. 

Logo, diante da situação de não nos sentimos amados na relação, pensamos que se nos doarmos mais à ela poderemos receber a recompensa, ou a nossa parte, afinal, investimos tanto, não é?! Então passamos a fazer tudo pelo o outro, aumentamos o nosso investimento na relação e deixamos os nossos princípios de lado também. Isso tudo para sermos reconhecidos e nos sentimos amados. Porém, quanto mais investimos, mais nos sentimos cansados e magoados porque o outro pode não compreender o recado, e achar que todo esse investimento é natural e não requer trocas. Ficamos insatisfeitos com a relação, pessoas que possuem a tendência a se culpar podem nessas situações se questionarem sobre onde erraram e o que mais poderiam ter feito para se sentirem amadas. A raiva também é um sentimento comum nessas relações, e é aí que surgem frases do tipo: "eu me doei tanto e ele não reconheceu", "eu abri mão de tudo por ela", "eu não sei mais o que eu faço para que ele me ame"... 


⚠É importante saber que relações assim se fundamentam num jogo de poder, de dependência afetiva e de falta de respeito por si, afinal: "eu me desgasto para que o outro me ame", e ainda: "eu me desamo para me sentir amada". 

➡Contraditório, não é? Esse formato de relacionamento é desfuncional e causa implicações para ambos os envolvidos na relação, afinal, uma relação sem trocas afetivas acaba elegendo um dos parceiros como mais importante, e o outro como alguém que depende deste.


***Portanto perceba quais as suas expectativas numa relação, e converse francamente com o seu parceiro para saber o que é real e o que é ideal, e como vocês juntos, podem flexibilizar essas questões. E, sobretudo, perceba se você está se valorizando, saiba que a resposta virá quando você analisar como se sente nos seus relacionamentos. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O que está te faltando?


Você tem o costume de exagerar na alimentação? O cartão de crédito sempre excede o limite? Costuma beber de forma exagerada? Trabalha demais? Malha demais?


 ➡O que está faltando na sua vida e que pode estar sendo compensado através de algum excesso? 


Que vazio você está tentando preencher?


 ⚠ As vezes não aceitamos ou não temos consciência dos nossos vazios interiores, e partimos em busca de satisfaze-los superficialmente. A questão é que como a insatisfação é interna (falta de segurança, de amor próprio, medo de enfrentar situações conflitantes, necessidade de ser amado/aprovado/reconhecido), nenhuma conquista externa amenizará o vazio existencial, e é aí onde existe a tendência em adquirir cada vez mais "coisas", exagerar mais nas "doses" e reforçar vícios e desenvolver compulsões e dependências. 


*Portanto, analise em qual área da sua vida você está exagerando, onde você está excedendo os limites e reconheça os seus "vazios". E sobretudo, se questione: O que estou fazendo em excesso que pode estar escondendo uma falta? 


Lembre-se: O primeiro passo para a mudança é reconhecer a necessidade de mudar.