segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Traição: Qual a minha responsabilidade?

"Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo." - Sigmund Freud.
Como será que Paulo se sentiria se soubesse que fora traído por Pedro?
Como será que Pedro se sentiria tendo consciência da sua traição em relação à Paulo?

A traição comumente é associada aos relacionamentos amorosos onde existe a troca de parceiros sem um acordo com quem se envolve (seja namoro, casamento, etc). O dicionário diz que traição significa: "Quebra de fidelidade prometida e empenhada".
Diversos são os julgamentos morais em relação ao traidor e a pessoa traída, na realidade, esta situação é antiga, e cada princípio moral, ideológico e religioso terá seus embasamentos para compreender esta situação relacional.
Contudo, na Psicologia e através de um enfoque psicanalítico e reichiano, a traição é analisada buscando resgatar a história de vida da pessoa e não o caso isoladamente. Assim, compreender a infância, principalmente como ocorreu o Édipo ou Complexo de Édipo  é importante para auxiliar o paciente enquanto indivíduo que trai ou que é traído a identificar o porquê do seu comportamento, e caso isso lhe cause sofrimento, perceber formas de elaborar os seus conflitos básicos e evitar a reprodução deste comportamento desfuncional.
A relação dos cuidadores com a criança pode ser permeada por ações que representam a perda do amor ou da confiança, podendo até mesmo ocorrer abusos diretos ou indiretos na sexualidade infantil, essas situações são consideradas como experiências de traição. Tais experiências poderão ser reproduzidas ou apresentar reflexos na vida adulta. Dependendo em que fase do desenvolvimento ocorreu a experiência de traição, geram-se traços de caráter predominantes, e quando adulto, o indivíduo poderá ter uma fixação com relação à traição, vivenciando relacionamentos em que desempenha o papel de traído ou de traidor.
Alguns indivíduos traem o parceiro porque não conseguem mais se satisfazer com ele, vão em busca de "alguém melhor", outros traem porque "precisam" afirmar para si o seu poder de sedução, outros, como forma de não se envolver sentimentalmente buscando relacionamentos relâmpagos e em grande quantidade... Inúmeros são os "motivos" da traição, porém, entende-se como fundamental sair do circulo vicioso da traição, identificar a origem deste comportamento e se livrar dos sentimentos aprisionados na infância. "Não existem vencedores, todos, de alguma forma sofrem conseqüências dolorosas".
Só para elucidar: O Édipo faz parte do desenvolvimento infantil, ele corresponde a uma etapa do desenvolvimento da criança e se dá de forma inconsciente, ou seja, a criança não tem consciência dos seus desejos. Se vivenciado de forma saudável, com pais acolhedores e atenciosos, não causará comprometimentos ou fixações, mas como envolve sexualidade e esta costumeiramente é um tabu social, geralmente essa fase se torna difícil para a criança, o que acaba contribuindo para a formação de traços de caráter rígidos.
A fase edípica está entre as mais significativas da experiência humana e o complexo de Édipo ocorre por volta dos 3 aos 5 anos de idade, fazendo parte da fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Nesta etapa, a criança consegue perceber a diferença entre os sexos, assim, dentro do complexo de édipo ela irá se identificar (querer ser igual) com o genitor do mesmo sexo que o seu e terá como objeto de desejo (querer ter para si) o genitor do sexo oposto. Mas, como não pode ter para si esse objeto de desejo devido ao medo da castração (genitor do mesmo sexo que pode punir realmente ou imaginariamente a criança), então a criança irá se aliar ao genitor do mesmo sexo que o seu, mas continuará desejando o outro. Assim, a criança irá suprimir os seus desejos e poderá desejar ser vista como "boazinha" pelos pais, passando a desempenhar papéis sociais do agrado deles. E por vezes muitas pessoas permanecem na vida adulta desempenhando esses papéis, não só para agradar os pais, mas as demais pessoas do seu convívio social também, recebendo em troca aceitação.
Quando os pais estimulam esses comportamentos dos filhos, podem contribuir para a formação de adultos que mentem para agradar, que traem para se vingar do outro que não lhe acolheu, ou porque não se sentem mais satisfeitas na relação e tem medo de se arrependerem ao optarem por somente uma relação...

É fundamental compreender que a traição causa prejuízos significativos em uma relação e precisa ser compreendida sem julgamentos. Sendo assim, o objetivo central da terapia é compreender o funcionamento do paciente e elaborar junto a ele a resolução dos conflitos que o fazem vivenciar uma vida disfuncional, neste sentido, o acolhimento, a escuta e a quebra de estereótipos se tornam fundamentais. E sobretudo, é importante perceber qual a responsabilidade do paciente diante da situação da traição.


*Contribuições de: SarahuanaNeidianaLarissa

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