segunda-feira, 30 de maio de 2016

O garoto que não queria crescer


"Eu não sinto mais nada!", disse o moço aos prantos pedindo para a sua amada arrancar a dor do seu peito e lhe devolver as certezas que ele tinha. 
Mas... E esse choro? E essa dor?  - Você não sente ou não quer sentir?


Estamos tão afoitos por alegrias, euforias, realizações, que construímos um universo próprio: "Neverland", ou "Terra do Nunca". Uma bolha imaginária que envolve o ego, e que é tão intensa, colorida, divertida e fantasiosa quanto o rancho do cantor pop que não queria crescer. E é assim que não reconhecemos o contrário do conto de fadas, tanto que acabamos excluindo as tristezas, frustrações, angústias da nossa própria bolha. Ali só entram os sinônimos da euforia. 
Porém, devido ao envolvimento no conto de fadas, é comum envolver outras pessoas nele, e lhes apresentar as diversões, lhes levar às alturas. 
Mas, o outro, quando sóbrio ou com um resquício de realidade e senso crítico, "pés no chão" mesmo, tende a estourar a bolha imaginária do Peter Pam. Tende a lhe apresentar as possibilidades reais da vida. E com a realidade, as responsabilidades sobre as escolhas e as consequências delas. 
E é assim que o Peter Pam acaba não reconhecendo o mundo apresentado pelo sóbrio. - 


"Eu não sinto mais nada", disse ele, optando pela manutenção da terra do nunca, sendo definitivamente "The boy who wouldn't grow up", "O garoto que não queria crescer"



segunda-feira, 23 de maio de 2016

Você sabia que as decisões que você toma são influenciadas pela forma como você se vê?



Você tem conseguido assumir as suas vontades e satisfazê-las plenamente? 
Você sabia que a capacidade de fazer aquilo que quer é proporcional à forma como você se "enxerga"? Pois é! A auto estima é responsável pelas nossas tomadas de decisões sejam elas simples ou complexas. Por exemplo: é comum que uma pessoa com auto estima elevada consiga reconhecer suas vontades e utilizar dos meios saudáveis para satisfazê-las independente do que as pessoas esperam dela, o contrário de uma pessoa que tenha baixa auto estima, pois essa devido a sua insegurança terá dificuldade de reconhecer seus desejos e terá a tendência de agradar o outro para suprir as expectativas que ele tem sobre ela.  




Mas, qual a origem da auto estima, e o que podemos fazer para ter uma auto estima positiva/elevada? 
A forma como nos sentimos amados na infância, o modo como fomos respeitados, reconhecido e valorizados pelas pessoas que possuem papéis importantes nas nossas vidas (pais, professores) exercem influência significativa na formação da nossa auto estima. São esses fatores que influenciarão na construção da imagem que temos de nós mesmos. Se os vínculos infantis não foram ricos, ou seja, não proporcionaram afeto, reconhecimento e encorajamento para confiar em si, podem contribuir para a formação de indivíduos inseguros e com medo de mostrar quem são (até porque desconhecem quem são). 

Caso essas características sejam observadas nas crianças ou se os pais percebem que a sua relação com os filhos não está sendo saudável e encorajadora, pode-se modificar isso através de uma nova forma de conviver, e também através do reconhecimento do por que (pais) agirem deste modo. 


Então, um modo eficaz para elevar a auto estima caso eu seja um adulto e me sinta inseguro, é através do autoconhecimento. Para isso é fundamental entrar em contato com a imagem que acredita-se ter: perceber medos, frustrações, culpas originadas do "eu deveria", o por que da necessidade de agradar, o por que da submissão... Para então conhecer quem se é, perceber o que gosta de fazer, identificar potencialidades, permitir-se errar, e sobretudo, se aceitar e se amar. Através do autoconhecimento é possível finalmente trocar o "eu queria" pelo "Eu fiz!"

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Por que "sofremos por amor"?


 
De acordo com o princípio da abordagem Reichiana (corporal), um indivíduo saudável busca o prazer e evita o contato com a dor. Exemplificando, desejamos tudo aquilo que no proporciona satisfação e recusamos tudo aquilo que consideramos com potencialmente capaz de nos causar prejuízo e algum tipo de sofrimento.
Mas, sendo assim, por que sofremos diante de algo que por si só é fonte de prazer?

É provável que você já tenha sofrido por "amor", ou tenha se sentido confuso diante da existência do amor. Então, se o amor é fonte de prazer e é a razão das nossas relações e nossa pulsão de vida, por que sofremos por ele?

Bem, nesse sentido é importante diferenciar o amor maduro da paixão ou do amor romântico. Na paixão, ou no amor romântico, existe uma fuga da realidade: o sujeito acaba vendo no seu objeto de desejo características que gostaria de ter em si, supervalorizando assim o objeto de desejo e desvalorizando o seu próprio ser. Já no amor maduro, existe um contato com a realidade, o encantamento desaparece e o objeto de desejo é percebido como alguém também falho mas com quem se deseja ainda assim partilhar os seus prazeres e dividir suas angústias. O amor maduro é saudável porque existe um contato com o prazer ainda que na realidade, diferente da paixão ou do amor romântico que afastam o indivíduo da sua realidade e o aproximam da fantasia.

O amor é sentido - vivido de acordo com cada estrutura de personalidade, isso porque a personalidade é construída de acordo como foram vivenciadas as etapas  de desenvolvimento psicossexual infantil. É a forma como essas etapas foram satisfeitas  e a qualidade dessa satisfação que irão refletir no modo como o adulto irá se relacionar. Ou seja, a tonalidade dos afetos  de um indivíduo adulto depende de fatores estruturais satisfeitos e ou negligenciados ainda na sua infância. Quando somos crianças ainda não temos a formação do nosso ego, ou seja, não temos ainda a racionalização do sentir, temos "somente" o nosso sentir, ou o nosso self. Contudo, a forma que sentimos irá construir o nosso "eu mental", o nosso ego.

No amor maduro o indivíduo se entrega ao seu self, ou seja, o ego se entrega ao sentimento.
Assim fica mais fácil compreender porque "sofremos por amor". Como sabemos, a forma como fomos nutridos afetivamente na infância refletirá nas nossas relações quando adultos. O medo de não ser amado, de não receber o suficiente, ou a fixação nos ganhos constantes de afeto acabam norteando nossa forma de se relacionar com o outro. É assim que o nosso ego (processo mental) teme se entregar ao self (sensações) pois teme ser aniquilado, teme perder o controle e sofrer.

O amor maduro não é uma entrega do self, mas uma entrega ao self. O ego entrega
sua hegemonia sobre a personalidade ao coração, mas nessa entrega ele não é
aniquilado. Em vez disso, é fortalecido porque suas raízes no corpo são nutridas pela
alegria que o corpo sente. Na declaração “eu amo você”, o “eu” torna-se tão forte
quanto o sentimento de amor. Pode-se dizer que o amor maduro é auto afirmativo.
(LOWEN, 1997, p. 120).

O amor maduro corresponde a capacidade de fortalecer o próprio self e disponibilizá-lo ao outro, não lhe dando amor, mas estando aberto e se mostrando de forma autêntica e espontânea, partilhando o próprio self com o outro.

Lowen diz que é impossível ter um relacionamento amoroso maduro se os envolvidos
não são maduros o suficiente, o que seria a capacidade de apoiarem-se sozinhos – se
necessário – e capazes de expressar seus sentimentos livremente. A maturidade, na qualaceitamos nossos medos, fraquezas e manipulações, é o que permite conhecer o próprio self eentrar em contato com ele. E, por fim, “uma entrega sadia ao próprio corpo e seus sentimentosé a entrega ao amor” (Lowen, 1997 apud Glasenapp, Gonçalves e Sapelli, 2014, p. 9).

Existem outras diversas especificidades que caracterizam o sofrimento gerado pelo processo de amar, contudo é fundamental compreender que nossas relações são originadas pela nossa complexidade afetiva e mental, e que o equilíbrio somente é encontrado quando os sentimentos, os processos mentais e o corpo encontram-se interligados e em harmonia.

O psicólogo clínico é um profissional que possui competência e habilidade para lhe auxiliar a identificar o que está lhe impedindo de ser saudável e feliz, e assim contribuir para que você encontre o seu equilíbrio psíquico (cognitivo, corporal e emocional). Saiba mais!


(As informações foram embasadas no artigo de Cristian Glasenapp, Cristiandrei Gonçalves e Carlos Sapelli: "O amor na perspectiva da psicologia corporal: Um estudo Neo-Reichiano segundo Alexander Lowen").

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Culpa

Você certamente já passou por alguma situação em que expressou a sua opinião ou se posicionou e foi duramente rejeitada sob a justificativa de que sua opinião - decisão era imoral, ou, sob os argumentos de "não é certo", "você não pode", você não deveria"...
E é provável que essa situação tenha lhe deixado confusa afinal, como algo poderia ser errado se lhe traria satisfação e não iria prejudicar ninguém? Pode ser também que o ocorrido tenha lhe deixado triste devido seu querer não ter sido aceito, ou no mínimo, respeitado, e automaticamente, por você não ter sido aceita. Conforme vivia situações semelhantes em que se sentia reprimida ao escolher aquilo que desejava, a tristeza foi dando origem à raiva por "ter" que adotar comportamentos não condizentes com os seus desejos. Mas a raiva. Justamente a raiva, sentimento este também tão negado e proibido, tão imoral. Esse acumulo de repressões certamente deu origem ao sentimento de culpa porque você era diferente daquilo que "queriam" que você fosse, e também por você ser imoral perante alguns indivíduos.

Bem, uma vez compreendido o porquê de tantos sentimentos negativos, é importante entender qual o princípio saudável para ser adotado - vivido: princípio moral ou princípio do prazer-dor?

A Teoria Reichiana diz que cada indivíduo é uma unidade psicossomática em que corpo e mente formam um sistema integrado, neste sentido ambos agem buscando a regulação ou o equilíbrio psíquico, e automaticamente, refletindo na saúde do "corpo". Bem, partindo deste princípio então fica mais simples compreender que todo o indivíduo saudável irá buscar o prazer e evitar a dor, esse é o princípio do prazer. Contudo, quando o "todo" do indivíduo deseja algo mas é impedido de satisfazer o seu desejo por causa de uma moral que se tornou regra negativa (princípio moral), logo todo aquele processo de tristeza-raiva-culpa surgirá.

Então diante desse conflito entre princípio moral e princípio do prazer, é fundamental perceber qual o princípio que norteia a sua escolha, e entender que a moralidade por vezes pode bloquear a sua espontaneidade causando sentimentos negativos e sintomas prejudiciais à saúde.
Por isso, é fundamental procurar um psicólogo e iniciar a psicoterapia para compreender a origem dos seus sentimentos e saber como elaborá-los para então alcançar uma vida mais saudável e espontânea.

domingo, 1 de maio de 2016

Fantasias

Mesmo que cause euforia momentânea, a fantasia não preenche. A fantasia e tudo que a circunda: idealizações, amores "impossíveis", paixão eterna, desejo de atingir a perfeição, nada disso toca as profundezas existenciais. Na realidade a fantasia pode ser comparada a uma maquiagem feita naqueles dias em que se quer esconder umas marquinhas profundas na pele: ela mascara, mas ela não trata, nem cura. Bem, nada disso consegue calar os "monstros" que anseiam por amor incondicional, eles continuarão vivos buscando cada vez mais formas de receber e sentir amor, de se sentir pertencente, de se bastar.

Aliás, a fantasia acaba por alimentar esses "monstros" fazendo com que eles exijam cada vez mais reconhecimento e gratificação, não percebendo que por esperarem algo em troca, não conseguem se entregar incondicionalmente e obviamente não obtém satisfação. 
Assim, é importante avaliarmos como está nosso conceito de realidade, se estamos fazendo contato com ela e como a consideramos. E em caso de distanciamento do real, perceber se estamos dispostos a abdicar da fantasia, reconhecer a dualidade bom x mau existente, e também, se queremos crescer e assumir as responsabilidades disso. O primeiro passo é enfrentarmos o medo de entrar em contato com os nossos "monstros", o segundo talvez seja identificarmos esses "monstros" e assumi-los para só então sentir a dor "deles" e "lhes" dar o que realmente precisam para então, finalmente nos satisfazermos genuinamente.

Liberdade e Responsabilidade

Ser livre significa escolher aquilo que se quer ser, de modo que a forma que eu escolho me tornar é única e exclusivamente de minha responsabilidade. 
Mas, ser responsável pelos próprios sentimentos, pelas próprias ações e comportamentos implicam em um posicionamento pessoal perante a vida. Então... Mesmo que se escolha algo em virtude do outro, mesmo que se diga sim querendo dizer não, é necessário saber que através disso se estará escolhendo a direção da própria vida. E o rumo que ela irá tomar dependerá de cada decisão tomada, mesmo que esta decisão não seja genuína aos próprios sentimentos mas sim para agradar o outro, ou enfim... (conforme foi explicado na postagem anterior).

Então quando se assume a direção da própria vida, deixa-se de ser expectador para se tornar agente de transformação do "seu" eu.

Acontece que nesse processo de apropriação de si, é natural que as queixas percam espaço, que a vitimização não encontre fundamentos para se exercer uma vez que "eu serei" o responsável pela forma com que "me apresento" ao mundo, pelas "minhas escolhas", pelo "meu" modo de lidar com as "minhas" fragilidades. 

Mas, será que estamos realmente preparados para assumir as responsabilidades sobre nossas escolhas? Bem, em caso de dúvidas, as nossas atitudes (lê-se escolhas), nos mostrarão isso.


Viver é escolher: Felicidade é uma escolha


Não é possível fugir, a todo momento nos deparamos com as possibilidades. Parece um processo simples: escolho e logo realizo meu desejo. 
Mas não é tão simples assim, é legítima a nossa angústia perante o novo. 
Não existe uma regra ou um padrão que norteie o motivo das nossas escolhas, se elas serão regidas pelo desejo, pelo querer ou pelo ideal, pelo "correto". O fato é que quando escolhemos algo de acordo com o que julgamos ser ideal ou mais satisfatório para outrem acabamos abdicando da nossa pulsão de vida, deixamos que àquele defina o nosso destino. 
Então, para que nossas escolhas ocorram sem conflitos temos que considerar três dimensões :
*Dimensão cognitiva: pensamentos, ideias e o que se reflete sobre a escolha que faz ou se pensa fazer; *Dimensão emocional: emoções  e o que se sente sobre as escolhas que se pretende fazer; *Dimensão comportamental : a escolha em si, o comportamento adotado. 
É a genuinidade dessas três dimensões que fará com que tomemos as decisões que desejamos. Precisam os ouvir as três dimensões do mesmo modo, de forma equiilibrada e harmônica. 
Temos somente uma oportunidade de viver o hoje então que ele seja fiel aos nossos anseios. Saber se escutar e se colocar em primeiro lugar é a maior prova de amor para consigo e quando há amor, àqueles que estão próximos também se alegrarão. "Felicidade é uma escolha", então, que sejamos merecedores dela.