quarta-feira, 18 de maio de 2016

Por que "sofremos por amor"?


 
De acordo com o princípio da abordagem Reichiana (corporal), um indivíduo saudável busca o prazer e evita o contato com a dor. Exemplificando, desejamos tudo aquilo que no proporciona satisfação e recusamos tudo aquilo que consideramos com potencialmente capaz de nos causar prejuízo e algum tipo de sofrimento.
Mas, sendo assim, por que sofremos diante de algo que por si só é fonte de prazer?

É provável que você já tenha sofrido por "amor", ou tenha se sentido confuso diante da existência do amor. Então, se o amor é fonte de prazer e é a razão das nossas relações e nossa pulsão de vida, por que sofremos por ele?

Bem, nesse sentido é importante diferenciar o amor maduro da paixão ou do amor romântico. Na paixão, ou no amor romântico, existe uma fuga da realidade: o sujeito acaba vendo no seu objeto de desejo características que gostaria de ter em si, supervalorizando assim o objeto de desejo e desvalorizando o seu próprio ser. Já no amor maduro, existe um contato com a realidade, o encantamento desaparece e o objeto de desejo é percebido como alguém também falho mas com quem se deseja ainda assim partilhar os seus prazeres e dividir suas angústias. O amor maduro é saudável porque existe um contato com o prazer ainda que na realidade, diferente da paixão ou do amor romântico que afastam o indivíduo da sua realidade e o aproximam da fantasia.

O amor é sentido - vivido de acordo com cada estrutura de personalidade, isso porque a personalidade é construída de acordo como foram vivenciadas as etapas  de desenvolvimento psicossexual infantil. É a forma como essas etapas foram satisfeitas  e a qualidade dessa satisfação que irão refletir no modo como o adulto irá se relacionar. Ou seja, a tonalidade dos afetos  de um indivíduo adulto depende de fatores estruturais satisfeitos e ou negligenciados ainda na sua infância. Quando somos crianças ainda não temos a formação do nosso ego, ou seja, não temos ainda a racionalização do sentir, temos "somente" o nosso sentir, ou o nosso self. Contudo, a forma que sentimos irá construir o nosso "eu mental", o nosso ego.

No amor maduro o indivíduo se entrega ao seu self, ou seja, o ego se entrega ao sentimento.
Assim fica mais fácil compreender porque "sofremos por amor". Como sabemos, a forma como fomos nutridos afetivamente na infância refletirá nas nossas relações quando adultos. O medo de não ser amado, de não receber o suficiente, ou a fixação nos ganhos constantes de afeto acabam norteando nossa forma de se relacionar com o outro. É assim que o nosso ego (processo mental) teme se entregar ao self (sensações) pois teme ser aniquilado, teme perder o controle e sofrer.

O amor maduro não é uma entrega do self, mas uma entrega ao self. O ego entrega
sua hegemonia sobre a personalidade ao coração, mas nessa entrega ele não é
aniquilado. Em vez disso, é fortalecido porque suas raízes no corpo são nutridas pela
alegria que o corpo sente. Na declaração “eu amo você”, o “eu” torna-se tão forte
quanto o sentimento de amor. Pode-se dizer que o amor maduro é auto afirmativo.
(LOWEN, 1997, p. 120).

O amor maduro corresponde a capacidade de fortalecer o próprio self e disponibilizá-lo ao outro, não lhe dando amor, mas estando aberto e se mostrando de forma autêntica e espontânea, partilhando o próprio self com o outro.

Lowen diz que é impossível ter um relacionamento amoroso maduro se os envolvidos
não são maduros o suficiente, o que seria a capacidade de apoiarem-se sozinhos – se
necessário – e capazes de expressar seus sentimentos livremente. A maturidade, na qualaceitamos nossos medos, fraquezas e manipulações, é o que permite conhecer o próprio self eentrar em contato com ele. E, por fim, “uma entrega sadia ao próprio corpo e seus sentimentosé a entrega ao amor” (Lowen, 1997 apud Glasenapp, Gonçalves e Sapelli, 2014, p. 9).

Existem outras diversas especificidades que caracterizam o sofrimento gerado pelo processo de amar, contudo é fundamental compreender que nossas relações são originadas pela nossa complexidade afetiva e mental, e que o equilíbrio somente é encontrado quando os sentimentos, os processos mentais e o corpo encontram-se interligados e em harmonia.

O psicólogo clínico é um profissional que possui competência e habilidade para lhe auxiliar a identificar o que está lhe impedindo de ser saudável e feliz, e assim contribuir para que você encontre o seu equilíbrio psíquico (cognitivo, corporal e emocional). Saiba mais!


(As informações foram embasadas no artigo de Cristian Glasenapp, Cristiandrei Gonçalves e Carlos Sapelli: "O amor na perspectiva da psicologia corporal: Um estudo Neo-Reichiano segundo Alexander Lowen").

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