Eu
poderia sintetizar este texto utilizando a metáfora do copo: há pessoas que o
vêem meio cheio, outras, meio vazio. O que muda não é objeto observado, mas sim
a forma como se observa.
É
duvidoso pensar que alguém goste de ser pessimista, que obtenha prazer e até
mesmo qualidade de vida vendo a vida sob a ótica da negatividade, do menos, da
escassez. É interessante porque atualmente os livros de autoajuda são os mais
vendidos no mercado, mas são também aqueles que após lidos geralmente vão parar
em uma gaveta e ficam completamente esquecidos. Não é porque eles não oferecem
bons conteúdos, mas é porque eles funcionam para quem já tem a tendência em
olhar a vida pelo prisma do otimismo. Quem desconhece esse jeito de viver
poderá até se esforçar para seguir as tarefas que os livros sugerem, mas terão
que lutar contra seus monstros internos que os pede constantemente para
continuar vendo o copo meio vazio.
As
pessoas que trazem este olhar pesado e até mesmo preto e branco sobre a vida
possuem um caso íntimo com o perfeccionismo. Qual a relação? Quanto mais
metódicas e exigentes consigo, maior a tendência em verem defeitos em si e no
mundo.
Geralmente
elas só se darão conta do quão doloroso é o próprio funcionamento quando
receberem críticas: "Você é uma pessoa amarga", "...ranzinza,
amargurada", "...está sempre de cara fechada, insatisfeita,
emburrada". E também quando se compararem a outras pessoas que demonstram
maior flexibilidade e gratidão para com a vida, aí se questionarão: "o que
há de errado comigo?"
Como
aprenderam desde muito cedo a serem perfeitas, acreditam que a busca pela
perfeição é o único jeito de viver. Porém não se dão conta que o problema não
está nas imperfeições que a vida apresenta, mas sim na busca delas por este
ideal.
É
interessante porque a sociedade capitalista reforça este padrão de perfeição, e
contraditório porque esta mesma sociedade cultua através da arte, lugares e
personagens aquilo que foge do padrão. A Torre de Pisa é um exemplo, milhares
de pessoas visitam anualmente a torre torta na Itália para vê-la, tirar foto
com ela; não muito longe temos em Gramado - RS, a famosa Rua torta que atrai
centenas de turistas diariamente. Lady Gaga também representa este ponto fora
da curva, uma cantora que faz do seu corpo uma tela para aquilo que quer
representar rejeitando os padrões estereotipados para a sua profissão. Ou seja,
parece que nós precisamos cultuar o que é imperfeito para mantermos a ilusão de
que somos perfeitos.
As
consequências disso são dolorosas do ponto de vista emocional: não reconhecemos
os nossos limites, nos frustramos com muita facilidade, resistimos a mudanças,
rejeitamos as adaptações, ficamos irritadiços quando algo não dá certo como
idealizamos, não desenvolvemos resiliência, nos tornamos pessoas
"emburradas".
E
é necessário se dar conta dos prejuízos individuais que a ação de ver o copo
meio vazio traz, é preciso identificar a dor da própria imperfeição para
aprender a lidar com ela.
Então
eu te lanço alguns desafios de autoconhecimento:
·
se olhe no espelho e perceba como você
costuma se enxergar (com críticas ou com elogios);
·
reflita: quando você não consegue conquistar
algo que quer, o que passa pela sua mente a seu respeito?
·
quando alguém próximo te presenteia, você se
sente grato por isso ou acha que a pessoa não fez que a obrigação dela?
A
psicoterapia provoca questionamentos fundamentais para que a tomada de
consciência ocorra, mas sobretudo, ela oferece suporte para que o indivíduo
faça contato com a dor de nunca ter sido considerado bom o suficiente. É
através deste processo interno que a mudança real ocorre. Procure um psicólogo.
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