Gosto de perguntar ao paciente que me procura se é a primeira
vez que ele faz psicoterapia e o que sabe sobre o processo terapêutico, é uma
forma de compreender como ele lida com a sua saúde mental e se possui alguma
crença errônea sobre o trabalho terapêutico. Algumas pessoas vem tímidas ao
consultório, aparecem inseguras, desconfiadas... Mas ao longo da psicoterapia revelam
frases como: "por que eu não iniciei antes?", "Tô falando pra
todo mundo vir fazer terapia", "Há um tempo atrás eu faria totalmente
diferente", "Como não enxerguei isso antes?", "Sou uma nova
pessoa"...
A Declaração dos Direitos Humanos defende a ideia de que a
saúde é um direito universal, contudo, algumas políticas governamentais não
facilitam o acesso à ela, principalmente no âmbito da saúde mental. A exigência
social em torno do poder e sucesso, imediatismo e baixa tolerância à
frustrações contribuem para o desenvolvimento dos transtornos mentais e, sem um
suporte psicológico e psiquiátrico, o agravamento de quadros psicopatológicos
aumenta.
O ser humano não é uma receita de bolo única, nem um robô que
tem a mesma programação. Somos únicos e por isso, complexos. É por isto que oferecer
métodos universais de cura para o sofrimento psíquico é altamente perigoso. A
psicoterapia então se faz necessária porque é através de uma ciência que estuda
o comportamento humano (psicologia) que é possível respeitar e compreender a
singularidade de cada indivíduo oferecendo o tratamento adequado de acordo com
cada história de vida.
Cada ser humano que senta em frente ao psicólogo, está
carregando consigo um passado repleto de dores e amores, o que ele fala não é necessariamente
o que ele diz, as palavras nem sempre conseguem traduzir a dor ancorada naquele
corpo, mas, o profissional da psicologia clínica possui capacitação para ouvir
o que não é dito e oferecer uma intervenção importante para aquilo que ficou
nas entrelinhas.
Na correria do dia a dia não paramos para refletir sobre as
nossas ações, nem para prestar atenção no nosso corpo, muito menos nas nossas
emoções. A alta demanda de trabalho, as cobranças sociais em torno de um
"dar conta de tudo", os preconceitos e julgamentos muitas vezes
impossibilitam a espontaneidade das pessoas, gerando seres automáticos e
engessados.
Mas, como conseguiremos colocar a vida em movimento se não
dermos atenção para aquilo que nos orienta? Não é possível trabalhar com
qualidade se nossas emoções estão conturbando nossa forma de pensar e agir. É
por isso que se conhecer se faz necessário, o autoconhecimento proporciona
tomada de consciência do próprio funcionamento. Costumo dizer que quando
entramos em um processo terapêutico passamos a descobrir qual o é o mapa da
nossa vida, vamos conhecendo cada caminho, identificando atalhos, percebendo os
becos sem saída. E decidindo caminhar pelo roteiro que mais combina com os
nossos objetivos.
A psicoterapia não oferece respostas prontas, nem soluções
para problemas. Mas ela oferece recursos para ajudar cada paciente a descobrir
e construir as suas próprias respostas, desenvolver resiliência e se
reconciliar com a sua história.
Não espere sofrer para reconhecer a importância de cuidar do
seu eu, o autoconhecimento pode iniciar mesmo que não exista uma dor
dilacerante. Você não tem que dar uma chance para a psicoterapia, você precisa
dar uma chance para a sua saúde emocional, para você.
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