O
final do ano traz consigo a proposta de deixar para trás os incômodos do ano
que passou, e construir novas alegrias no ano que se aproxima. Nesta época do
ano existe uma ideia de que todos os problemas ficarão para trás assim que os
ponteiros do relógio passarem da meia noite. É como se a partir do início do
novo ano os problemas automaticamente sumissem, como se falássemos: "Deixa
pra lá", e os problemas passassem então a não influenciar mais os nossos comportamento
e os nossos sentimentos durante todo o novo ano. Esta ideia pode funcionar para
as pessoas que realmente precisam de um motivo para finalizarem ciclos pois,
desta forma justificam as suas escolhas - o fim de determinadas situações -
baseadas em uma crença universal de que ano novo implica em comportamentos
novos. Essa crença pode ser muito positiva porque pode impulsionar a tomada de
decisões, porém pode mascarar o medo de enfrentar a responsabilidade pessoal na
origem de determinados problemas.
Assim,
é importante compreendermos que quando nos machucamos, não curamos a ferida
pedindo para que ela pare de doer porque é ano novo. E que nesse caso a ferida
continuará doendo apesar do ano ter passado, mesmo que num primeiro momento ela
esteja dormente devido ao anestésico da "promessa de ano novo".
Situações
como esta são um exemplo de como algumas pessoas funcionam:
·
Buscam justificativas externas para suas
tomadas de decisões,
·
Quando sentem-se cansadas imaginam um
contexto mais prazeroso e desistem de compreender o porque do seu cansaço, e
deste modo, não refletem sobre as possibilidades de descansarem ao invés de
iniciarem um novo ano na ilusão de fazerem diferente, e inconscientemente
reproduzirem os mesmos comportamentos.
Por
isso é tão importante ter discernimento e cautela para não se tornar um
indivíduo compulsivo por motivos para "deixar pra lá", e que desistem
de enfrentar as adversidades preferindo buscar novas alegrias.
Quando
surge o questionamento sobre: Descansar ou desistir, algumas pessoas consideram
que a resposta para essa pergunta corresponde em avaliar a importância de tal
situação na vida da pessoa. Ou seja, partindo desse pressuposto, quando
desistimos de algo é porque aquilo não era realmente importante para nós, e
quando descansamos de um estresse mas retomamos o fôlego significa que agimos
deste modo porque consideramos que aquilo é realmente importante para nós.
Essa
resposta seria correta caso não nos boicotássemos tanto diante das nossas
escolhas. Não somos tão práticos e previsíveis assim, o ser humano é extremamente
complexo e para evitar sofrer desenvolve mecanismos inconscientes que o
boicotam e o conduzem a uma escolha que a princípio é menos dolorosa. Nenhum
conflito é solucionado sem a elaboração deste, ou seja, mesmo que se busque
novas alegrias, enquanto o comportamento antigo que contribuiu para a origem do
problema não for aceita, compreendida e transformada, as novas alegrias se
contaminarão pelos velhos comportamentos, se transformando assim em um circulo
vicioso.
Talvez,
no último dia do ano, ao invés de descartarmos os problemas do ano que está
acabando, buscássemos compreender o porque deles terem acontecido, rever o que
está nos levando a desistir de cada um
deles - compreendendo que quando desistimos de algo porque consideramos ruim ou
negativo para nós, desistimos também de transformar este ruim em algo bom,
abdicamos da nossa capacidade de te resiliência e de aprender a enfrentar
algumas batalhas. Não precisamos ganhar todas as batalhas, mas podemos
reconhecer quais valem a pena se lutar para não sermos vencidos por elas mais
adiante.
Lembre-se:
A gente só consegue "deixar pra lá" quando compreende a
responsabilidade pessoal na origem do problema, exceto isso, é como se esperasse
que o problema desaparecesse porque o ano novo está se aproximando. Portanto,
antes de desistir, reflita se você já descansou o suficiente. E saiba que:
"Tudo aquilo que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos mais adiante
e chamaremos de destino" (Jung). Pense nisso!
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