Sabemos
que nós seres humanos somos diferentes um dos outros e que aquilo que cabe para
o outro não precisa necessariamente caber para nós. Isso vale para roupas,
sapatos, pessoas, lugares... Mas apesar de sabermos disso, você já percebeu que
ainda em alguns momentos insistimos em pertencer a um lugar que não combina com
a gente? Bem, geralmente nem nos damos conta disso e é aí que o sofrimento
psíquico começa a acontecer.
É
que embora compreendamos racionalmente esta lógica da vida, nossos sentimentos
não conseguem acessar este conteúdo racional. É necessário então falar com
estes sentimentos numa linguagem compatível com eles. A razão pede realidade,
os sentimentos pedem elaboração.
Cada
experiência de exclusão, rejeição, humilhação, inadequação, pode intensificar
crenças internas a respeito de si e da vida. Se o outro está rodeado de amigos
e eu estou sozinha é porque ele é uma ótima companhia e eu não. Se a maior
parte do meu círculo social se diverte em festas e eu em casa assistindo filme,
logo me sinto inadequada e com isso intensifico alguma crença negativa a meu
respeito e acabo enaltecendo os outros. Estes sentimentos tem origem no decorrer
da infância e são oferecidos à criança através das suas primeiras relações.
Quando
as diferenças são classificadas entre certo e errado, boas ou más, surge a
baixa autoestima que acaba exigindo que nos adaptemos àquilo que o outro vive,
afinal, é ele quem nos classificou como ruim, logo, ele é que é bom. Com o
tempo não precisamos mais que alguém nos classifique, nós mesmos internalizamos
o nosso rótulo negativo e passamos a nos
orientar através dele.
Às
vezes por termos uma rígida obstinação nem percebemos que o lugar ou as pessoas
não combinam com quem somos, e é aí que o corpo vai dando sinais para sairmos
daquele espaço: o desânimo aparece, as pernas quase ganham vida própria de
tanto que se debatem, o coração acelera, ficamos ofegantes e impacientes. Porém
nem sempre a mente entende estes recados, e por ver que todos estão
confortáveis ali, exigimos o mesmo de nós, afinal, quem deve estar com algum
problema sou eu já que todos estão felizes.
O
problema não está somente na tentativa de pertencer, mas nos sentimentos que a
não concretização deste desejo suscita e nas crenças que estes sentimentos
reforçam e que por fim acabam orientando uma vida.
Quando
as dores da inadequação surgem cabe conversar com os próprios sentimentos,
perguntar à eles o que precisam para cessarem. As respostas podem variar mas a
base de cada uma delas será: pertencer. É neste momento que é necessário ir ao
encontro daquele lugar que é seu, que tem a sua essência, que te toca e te traz
conforto e confiança. Este pertencimento pode ter qualquer nome, pode ser uma
pessoa ou um lugar, pode ser só ou com alguém, mas é neste lugar que a sua
identidade precisa ser resgatada.
A
sensação de ser inadequado ou estranho pode ser resultado de você não combinar
com o ambiente em que está tentando se inserir, de você estar se forçando a ser
alguém que não é. O resultado não tem como ser diferente, não tem como
desenvolver intimidade com algo com o qual não se identifica. Então faça as
pazes com o seu eu, aprenda a ver as diferenças como singularidades e não como
polaridades entre bom e mal. Construa o seu próprio lugar e assim não precisará
caber em todo e qualquer ambiente.
Está
tudo bem em não gostar de tudo e em não se identificar com o que é considerado
"bom", há vários outros espaços bons que combinam mais com a pessoa
que você é. Descubra quais são eles e se aproprie do que te toca.
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