Nem lembro quantas
vezes já mencionei esta frase em consultório. Muitos pacientes precisaram
ouvi-la ao longo do seu processo terapêutico apesar é claro, das singularidades
que regem cada terapia. Mas é necessário porque embora seja uma questão lógica,
muitas pessoas apresentam dificuldade de aceitar que se relacionar implica em
viver incompatibilidade de pensamentos e sentimentos em algumas situações.
Mas muito além de
saber que cada ser humano é diferente, é necessário falar com o sentimento que
surge através desta realidade, afinal, não é porque a mente entende que as
emoções e os sentimentos se dissiparão. Algumas dores que podem surgir diante
da falta de reciprocidade são:
·
A
frustração de não ter a resposta que esperou,
·
a
impotência de ver a pessoa amada indiferente às manifestações de amor,
·
a
dor da rejeição de não receber a aprovação que queria ,
·
a
injustiça de perceber o quanto investiu pra se fazer visível,
·
a
raiva de não ter o que julga ser seu por direito ou por perder o controle que
se julgou ter...
A ausência de
reciprocidade mexe com sentimentos muito primitivos que costumam ser o nosso
calcanhar de Aquiles, aquela parte que tende a ser escondida justamente por ser
altamente dolorosa e vulnerável. Esta dor pode mudar de intensidade ao longo da
vida, mas ela sempre carregará consigo um significado a partir da infância. É
por isso que tratar feridas envolve passar por um processo, é que é necessário
revisitar o passado ora através de lembranças mentais, ora através de sensações
corporais; para resgatar o conteúdo que ficou mal elaborado.
Você já se perguntou
sobre o que consegue fazer com este "não" que recebeu? É que devido a
dor que ele promove, nem pensamos na hipótese de aceitá-lo, parece que se
fizermos isso sofreremos ainda mais. Só que não. A verdade é que sofremos
quando resistimos, quando aceitamos conseguimos desenvolver a habilidade de
sermos flexíveis e adaptáveis. E será que não é este um dos sentidos de se
viver em sociedade?
Não é porque você
recebeu um "não" que precisa negar o seu real desejo. Talvez você
possa deixá-lo ali num cantinho para que em um outro momento, em uma nova
oportunidade você o lance ao mundo e quem sabe, se satisfaça. Os
"não´s" não precisam ser o fim, eles são tão situacionais quanto os
"sim´s" que você recebe.
Se permita chorar,
esbravejar, doer. Mas após a liberação das suas emoções, viva em prol da sua
saúde mental: aceite aquilo que você não pode mudar.
Se permitir sentir.
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