segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Agora eu tô solteiro e ninguém vai me segurar!

Beber até ficar "no brilho", gastar todo o salário do mês nas baladas, "pegar" o maior número de pessoas... Algum destes "programas" é familiar para você? Se a resposta for sim, talvez você faça parte do grupo de pessoas que defende com unhas e dentes o status de desapegado.

A cultura do desapego está em evidência, e podemos pensar que um dos fatores para o surgimento deste modelo cultural se deve ao radicalismo contra o romantismo. Se em um momento da história se estimulavam o relacionamento conjugal devido a este ser uma convenção social e sinal de cumprimento às regras religiosas, hoje percebemos um radicalismo em relação à evitar relacionamentos e desenvolver o individualismo. Ou seja, parece que se percebeu que é possível ir contra os papéis sociais ao negar as relações por dependência (financeira, afetiva social...), contudo, se deturpou o conceito de liberdade, transformando a individualidade em individualismo.

Percebemos esta deturpação nas mídias sociais, em que aquele que demora para responder a uma mensagem é valorizado, ao contrário daquele que se mostra sempre disponível, este é considerado "fácil" e portanto, com menos valor. Este comportamento individualista também é percebido nas relações onde um parceiro omite os seus sentimentos de amor em relação ao outro escondendo o que sente para ser percebido como desapegado. É assim que se estabelecem os jogos de poder nas relações, em que sinceridade e espontaneidade são itens totalmente dispensados, e que dão lugar à manipulação e à representação de papéis disfuncionais como garantia de que o parceiro irá continuar ali.

Por que algumas pessoas vivenciam a cultura deturpada do desapego? Podemos elencar alguns fatores:
<> Dificuldade de expressar os sentimentos (alexitimia).
<> Medo de se sentir abandonado (a) por isso evita-se relacionar-se.
<> Crenças equivocadas sobre os relacionamentos obtidas através de modelos familiares disfuncionais,
<>Dificuldade de lidar com responsabilidades e compromissos,
<> Medo de abdicar do seu "conforto",
<> Tendência em querer obter prazer a todo momento,
<> Falta de empatia.

É importante compreender que cada um destes fatores possuirá uma origem individual, ou seja, é necessário analisar a história particular de cada indivíduo para compreender os mecanismos que o levaram a se fechar para os relacionamentos e desenvolver a armadura de desapegado dos sentimentos e dos vínculos afetivos.


Quais as consequências da cultura do desapego?
*Um passo importante a ser tomado é perceber os ganhos secundários por trás do comportamento desapegado. Se a proposta do desapego é obter prazeres e viver sozinho, podemos imaginar que os ganhos da manutenção deste papel envolvem diversão e individualismo.
*Outro fator a ser observado é que por trás de toda escolha existe uma renúncia: quando escolhemos ter somente prazer, abdicamos das responsabilidades. E essas possuem um componente muito importante mas que é pouco enfatizado: o sentimento de utilidade. Quando somos responsáveis e comprometidos com algo ou com alguém, nos sentimos importantes e úteis e fazemos contato com algo que realmente nos preenche, percebemos que nos preenchemos de forma adulta e deixamos de lado a insatisfação infantil de querer a todo momento algo mais interessante ou mais prazeroso.
*Quando escolhemos viver sozinhos em prol da teoria do desapego, abdicamos dos ganhos que uma relação pode oferecer. Deixamos de conhecer alguém profundamente e estabelecemos apenas um contato superficial, nisso existe uma tendência à rotatividade de pessoas e evita-se o envolvimento. Ao nos relacionarmos visando apenas o prazer momentâneo, sabemos que existirá uma limitação. Quando o prazer for obtido, "crescerá" novamente a insatisfação e o desejo de obter prazer novamente, e quando este prazer não for conquistado, o indivíduo poderá entrar em contato com algo que ele tanto evita: o sentimento de solidão.


Como podemos afrouxar a armadura do desapegado?
*Primeiramente é necessário entrar em contato com a realidade e perceber quais prejuízos individuais a manutenção deste status tem trazido para a sua vida.
*Também é importante identificar qual a origem do desenvolvimento desta armadura: em que momento aconteceu e para protegê-lo de que.
*Concomitantemente é fundamental analisar as crenças que o limitam a se relacionar e elaborá-las afim de modificar os comportamentos causados por elas.
*Entrar em contato com os próprios sentimentos ao invés de fugir deles também é primordial para modificar os comportamentos que o aprisionam a ser um desapegado disfuncional.


O psicólogo é o profissional adequado para lhe ajudar a compreender os motivos que originaram as suas crenças, os seus sentimentos e os seus comportamentos. Ao perceber que você está fugindo das responsabilidades e dos compromissos, que tem desejado ter somente prazeres a todo momento, que você tem medo de se relacionar e ou que não consegue expressar os seus sentimentos, procure auxílio psicológico. O autoconhecimento é a solução para a desconstrução das suas armaduras.


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