segunda-feira, 17 de outubro de 2016

É que homem é assim mesmo...

Hoje quero conversar sobre os estereótipos de gênero. O documentário: "The mask you live in" retrata a forma como os meninos são educados e como esta educação pautada na diferença de papéis de acordo com o gênero influencia negativamente na estruturação de personalidades.

Os papéis polarizados em relação ao masculino e ao feminino limitam as potencialidades de cada indivíduo. Desde que nossos pais tomam conhecimento da gestação, iniciam o processo de construção das nossas identidades. Utilizam da cultura para isto, porém geralmente não se questionam do porquê de suas escolhas com relação as cores das roupas, aos modelos de brinquedos, e principalmente, à educação diferenciada que darão aos filhos devido ao gênero que irão pertencer. Eles "somente" reproduzirem os modelos que já existem.

As limitações de papéis de gênero são várias, mas em relação ao masculino, encontramos vários "nãos":

*Não pode chorar ou demonstrar sensibilidade,
*Não pode pedir ajuda,
*Não pode ser dominado pelas mulheres,
*Não pode não conseguir.

E para cada "não" existe um "tem que":

*Tem que ser forte,

*Tem que ser frio, manter distanciamento emocional,
*Tem que dominar as mulheres,
*Tem que conseguir (sucesso profissional, mulheres, dinheiro, status...).

Parecem radicais ou ultrapassados esses estereótipos? Então perceba o contexto de violência, e analise que gênero está entre o maior responsável por assassinatos, que gênero utiliza mais drogas lícitas e ilícitas, que gênero é responsável pelo maior número de evasão escolar. Perceba também a discrepância nos números de homens e de mulheres com cargos a nível de gerência.
Os homens, por possuírem a responsabilidade de fazerem valer o estereótipo de masculino, acabam limitando as suas potencialidades e desenvolvendo máscaras sociais.

>>>Quando o pai fala para o seu filho que homem não chora, que homem precisa ser forte e trabalhar desde cedo para manter a casa, que homem não pode levar desaforo para casa, que precisa bater para ser respeitado, esse pai ou este modelo de educação acaba reforçando que a criança é inadequada e que precisa desenvolver essas "habilidades masculinas" para ser amado ou aceito enquanto homem pelo pai e pela sociedade. <<< É neste sentido que a violência se instala, e que a personalidade se molda nas expectativas de gênero. Logo, tudo aquilo que não é considerado masculino passa a ser visto como feminino, e obviamente, rejeitado. É assim também que surgem os preconceitos com relação à homoafetividade, pois se ser homem significa ser "frio" e "pegar" várias mulheres, logo àquele homem que se mostra emotivo e que não objetifica as mulheres passa a ser considerado afeminado ou homossexual, alvo de inúmeras injustiças.

Pensar na neutralidade de um sujeito quanto à sua identidade sexual e de gênero é considerar a utopia que está além da equidade de gênero. Então, antes de se pretender resgatar a espontaneidade de cada sujeito, é importante discutir o porquê a sociedade faz necessária a classificação de comportamentos e sentimentos diferentes de homens e de mulheres. Deve-se refletir sobre a liberdade individual em se escolher, independente do que a sociedade apresenta, pois, ontologicamente, não existe uma essência humana.
O objetivo dessa mudança social, mas que, sobretudo, inicia com uma implicação individual, é permitir a reflexão sobre os papéis de gênero e, sobretudo, desejar que os indivíduos, independente do seu sexo, se tornem quem desejam ser. E ainda, conforme apresenta Castañeda (2006, p. 24), "o inimigo a ser vencido não é a masculinidade, mas uma certa definição de masculinidade e, portanto, de feminilidade, que é a base do machismo".  Assim, como escreveu Doroth Parker (apud BEAUVOIR, 1970, p. 8), "minha ideia é que todos, homens e mulheres, o que quer que sejamos, devemos ser considerados humanos".  Refletir sobre os padrões sociais torna-se importante para rever a origem de atitudes negativas a partir deles e também as implicações da reprodução de tais padrões. Discutir sobre as estereotipias de gênero traz um desconforto devido ao tempo em que elas são reproduzidas e à forma com que estão arraigadas no discurso. Contudo, discutir e refletir sobre o assunto ajuda a problematizar quais comportamentos são importantes adotar para modifica-los e, possivelmente, erradicar os pré-conceitos sobre homens e mulheres, permitindo a todos uma vida de maiores possibilidades de ser. 

Portanto perceba se os seus sentimentos de inadequação são originados através crenças limitadoras, e busque alternativas para se experimentar fora dos padrões "estabelecidos". É provável que haverá sofrimento em ambas as escolhas: sofre-se por reproduzir algo que não é espontâneo, e sofre-se por abdicar desses comportamentos e deixar talvez de agradar a quem os estruturou. Porém, nas duas situações é fundamental se questionar sobre qual papel você está desempenhando na sua vida e se ele está condizente com o que você almeja para si.

Um psicólogo pode te ajudar a identificar esses papéis. Procure ajuda, faça isso por si. Invista na sua felicidade.


(Os grifos em itálico fazem parte da monografia: As implicações do sexismo benévolo na afirmação de estereótipos femininos, de autoria de Jéssica Horácio de Souza).

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