domingo, 16 de outubro de 2016

Mas eu me mordo de ciúmes!

Você já parou para analisar como é a sua relação com o ciúme?

Na infância algumas crianças tem medo de perder os brinquedos e por isso em algumas situações acabam não dividindo ou emprestando para o irmão ou para o colega. Na adolescência começam a cuidar melhor dos seus pertences (maquiagens, videogame, roupas...) com medo de que eles sumam ou estraguem. E quando iniciam os relacionamentos com parceiros, entram em contato novamente com o sentimento de posse/medo/insegurança. Sabe o que todas essas situações tem em comum? O medo de perder o objeto de desejo e entrar em contato com o sentimento do abandono.

Porém às vezes o motivo por trás do ciúme é inconsciente, ou seja, o indivíduo não compreende os seus medos e acaba assumindo um comportamento controlador em relação ao parceiro. Você já deve ter conhecido relações em que um dos parceiros estabelece onde o outro "pode" ir, segue a namorada, invade a privacidade do outro através das redes sociais... E quando questionado (a), justifica as suas atitudes dizendo que faz isso porque "hoje em dia não dá para confiar", ou: "faço isso porque ele (a) já foi infiel comigo", e ainda: "não quero ser feito (a) de bobo (a)".


É importante compreendermos que o ciúme é um componente natural das relações, sejam elas estabelecidas entre indivíduos ou entre indivíduo - objeto. O que Freud nos mostra é que existem graus e tipos diferentes de ciúmes, em todos eles o que predomina é uma disputa imaginária sobre o objeto de amor (aqui a palavra objeto se refere a algo ou alguém em quem depositamos as nossas idealizações e paixões).
O indivíduo sente que precisa do outro para se sentir completo, e então estabelece uma relação de dependência com o parceiro. Deste modo teme perder a sua "fonte de vida" pois acredita que sem essa "fonte" não "existirá". Como consequência disso pode ocorrer uma disputa de egos onde o indivíduo tenta competir direta ou indiretamente com a sua ameaça, pois sente-se inseguro em relação à si julgando que poderá ser substituído por "algo melhor".  O ciúme pode ocorrer também como uma projeção paranóide em que por desejar ter outras relações, o indivíduo desconfia do seu parceiro julgando que ele também possui este desejo.

Toda relação que se estabelece por dependência considera que existe a necessidade de um satisfazer as necessidades do outro. E é através deste formato de relacionamento que se instaura o ciúme patológico (onde não há o controle das ações motivadas pelo medo da perda e do abandono).


>>>Mas por que desenvolvemos este medo?<<<
Cada etapa do desenvolvimento infantil possui características específicas. De forma simplificada, para o bebê nos seus primeiros meses de vida quem desempenhará o papel de seu primeiro amor será a mãe ou a figura cuidadora. Logo ele compreenderá que todas as suas necessidades serão satisfeitas por esta figura. Contudo, ao perceber que a mãe por exemplo, divide a sua atenção com o pai e ou com o irmão, a criança se sentirá "trocada" ou "substituída". A forma como a criança irá lidar com este sentimento dependerá de como será conduzida a educação dela. Ela poderá se tornar competitiva, poderá sentir raiva ao entrar em contato com situações em que é substituída ou em que perde, poderá se tornar insegura e com medo de arriscar e por isso ficar sempre na zona de conforto, poderá se tornar dependente de algo ou de alguém, e como núcleo de todos estes fatores poderá desenvolver o ciúme patológico, uma vez que ele se desenvolve como uma forma de se proteger do medo de entrar em contato com o sentimento de abandono e de perda do objeto amado.

>>>Como podemos lidar com o ciúme patológico?<<<
Antes de qualquer protocolo clínico, é fundamental que o indivíduo reconheça em seus comportamentos algumas atitudes que o limita a se relacionar de forma saudável. Para isso podemos analisar os discursos dos nossos parceiros com relação ao modo como estamos nos posicionando na relação, podemos identificar os sentimentos presentes em uma situação em que não temos controle sobre ela. É fundamental também que busquemos auxílio psicológico para compreendermos a origem do nosso ciúme, de que forma o expressamos, e as medidas que podemos tomar para eliminar o conflito por trás dele.

Porém algumas dicas são válidas, gosto de perguntar aos meus pacientes: Qual a evidência que você tem de que este seu pensamento (fui/sou/serei traída (o)) é real? Quando nos posicionamos na realidade percebemos se os nossos pensamentos são reais ou se eles estão contaminados de crenças negativas e disfuncionais, acabando por desorganizar os nossos sentimentos e limitar as nossas ações.

Quando temos somente um foco na nossa vida, a tendência é que tenhamos muito medo de perder este foco, afinal, é ele quem dá significado à nossa vida. Desta forma ficamos extremamente inseguros e com medo de perdê-lo e com isso "sufocamos" o (a) parceiro (a). Portanto, perceba porque você tem colocado o seu relacionamento na posição em que ele está, reavalie se eles está antes ou depois de você. A partir disso, ajuste as prioridades e amplie as possibilidades de ser feliz.

"A vida começa onde termina o medo." - Osho.


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